Solange Aparecida Marques Camargo, 64 anos, nascida em São Paulo, é uma artista preta que busca formas possíveis de expressar a inquietude de sua negritude, por esse motivo tornou-se pesquisadora da Cultura afro-brasileira. Solange é fundadora e Coordenadora do Grupo Afro Babalotim. Neste grupo artístico ela é idealizadora, produtora cultural, bailarina e coreograda. Ela é mestra referência nos grupos de culturas tradicionais populares atuantes na Zona Leste, além de ser, também, mestra nas artes culinárias da cozinha afro brasileira.
Solange é casada com Benedito de Mauro Camargo há 40 anos, tiveram sete filhos, 5 homens e 2 mulheres e, atualmente, possuem 12 netos. Todos participam do Grupo Afro Babalotim, convivêndo e paticipando da cultura negra desde o nascimento. Nas palavras de Solange como surgiu o Grupo Babalotim:
“Nasci na Vila Dalila, reduto negro, onde se instalaram várias famílias de reisados (Folia de Reis) e a casa da minha bisavó Mádia, era um núcleo de reunião desses reisados. Eu vim de um povo negro festeiro, religioso que cultuavam sua ancestralidade do Reisado, onde desde pequena Eu dançava junto à Bandeira do Divino.
Quando cheguei em São Miguel no ano de 1973, tinha 13 anos e nas brincadeiras com minha irmãs e primas comecei a sentir falta dos festejos e para matar a saudade, a tarde quase noite, nós tocávamos e dançávamos á luz de vela e lampião e eis que veio a luz elétrica em 1978, logo minha irmã Soma que cursava o magistério no antigo Colégio Cruzeiro do Sul me convidou para coreografar, contar a história do povo negro em um evento da escola. E em 1986 voltei para o colégio para realizar nova apresentação, agora com um pouco mais de sabedoria.
Com todo esse estimulo em 5 de janeiro de 1988 realizamos em nosso quintal a Festa de Santo Reis, dançávamos com bonecão e tudo e colocamos o nome de “Babalotim”, através das histórias que ouvíamos da minha bisavó, os instrumentos eram baldes, latas e chocalhos de tampinhas. [risos]
Quando construíram a Oficina cultural Luiz Gonzaga em 1989, minhas três irmãs e eu nos inscrevemos para o curso de dança e assim conheci o bailarino, baiano, negro Firmino Pitanga, mestre da Cia. de Dança Negra Contemporânea Batá-Kotô. Digo que não foi fácil passar da vivência para a técnica.
Em 1991, o Grupo de Dança Negra Contemporânea Babalotim, como passamos a chamar, começou a ser convidado a se apresentar em vários Festejos do bairro de São Miguel e no entorno. Nos tornamos públicos através das apresentações que realizávamos a convite da Secretária de Cultural da capital paulista e também dos municípios próximos como Suzano, Itaquá, Ferraz, assim não éramos mais só um grupo de quintal.
E se ampliou o nosso objetivo de contribuir para que o povo negro reencontrasse sua identidade cultural, porque o povo negro nunca deixou de ser negro, sofreu sim deformações culturais que provocam no interior do corpo o surgimento de um grito de liberdade.
Assim o grupo Afro Babalotim foi ganhando visibilidade para cantar, dançar, musicalizar as riquezas da cultura negra, assim desenvolvemos canto, dança, participamos do carnaval apresentando um bloco de afoxé. Desde então, o grupo só foi ampliando e crescendo junto com a família. Realizando apresentações em escolas públicas, particulares, universidades, secretárias, clubes, associações, escolas de samba e outros.
Devido uma promessa de cura o Grupo Babalotim participou nos Festejos de São Benedito em Aparecida do Norte, em 2008 com o Afoxé Babalotim. Participou do 1° Carnaval de Rua em São Miguel Paulista, em 2017 e nos anos seguintes, sendo interrompido em 2020 devido o momento de pandemia que vivemos, fizemos apenas um ato simbólico. Participamos de livros, muitas participações a convite de outros grupos culturais.
Nós somos fruto da Cultura e tudo que produzimos provém da cultura, faz parte do nosso cotidiano”.
